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Doadoras e receptoras de óvulos – integração perfeita e ética que ajuda a construir famílias

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Dúvidas mais comuns para quem precisa da doação e para quem gostaria de doar

A primeira gestação resultante de uma ovodoação ocorreu em 1984. A paciente tinha falência ovariana prematura, ou seja, entrou precocemente na menopausa. No Brasil, a doação de óvulos é realizada pelo IPGO há mais de dez anos, porém, muitas pessoas ainda têm várias dúvidas de como funciona o processo. “Trata-se de uma técnica ética e legal, contanto que não haja fins comerciais e seja anônima. Portanto, a doadora não saberá a identidade da receptora e vice-versa – é o que determina a lei e a ética. Chamamos de doadora a mulher que será estimulada para um ciclo de FIV (fertilização in vitro), do qual resultará a coleta de vários óvulos dos quais metade será doado (doação compartilhada) para outra mulher que não tem mais capacidade de produzi-los – a receptora”, esclarece o especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi.

A receptora terá que ter seu útero preparado com hormônios antes de receber os embriões e os mesmos terão que ser mantidos até o terceiro mês de gestação, quando a placenta passa a ser a responsável pela manutenção da mesma. Após o terceiro mês, a gestação evolui normalmente, sem a necessidade de suporte hormonal. O pré-natal é igual ao de uma gravidez concebida naturalmente e a mãe poderá amamentar sem nenhuma diferença de uma gravidez espontânea.

Como é feita a doação

O ciclo de doação de óvulos é realizado pela técnica de fertilização in vitro na qual os gametas femininos (óvulos) de uma mulher (doadora) são doados a outra (receptora) para que sejam fertilizados. A fertilização é realizada no laboratório com espermatozoides do marido da receptora. A doadora será estimulada com hormônios injetáveis para aumentar a produção de óvulos naquele mês. Após a coleta, quando o processo for realizado pela doação compartilhada, metade dos óvulos serão fertilizados com os espermatozoides do marido da doadora e a outra metade com os espermatozoides do marido da receptora.

“Vinte e quatro horas após a fertilização, sabemos quantos embriões se formaram, estes permanecem no laboratório por dois a cinco dias e, após serem selecionados, serão colocados no útero por meio de um cateter por via vaginal. Não há necessidade de sedação”, explica o médico.

Desta forma, o(s) embrião(ões) transferido(s) para o útero da receptora, será(ão) formado(s) pelo espermatozoide do próprio marido e o óvulo de uma doadora. A receptora recebe dois únicos hormônios (estrogênio e progesterona) para o preparo do endométrio a fim de receber os embriões, pois não existe indução de ovulação. A taxa de sucesso de gravidez é a mesma da paciente doadora que tem idade ao redor de 30 anos (50%).

A doadora

No Brasil, a ovodoação é obrigatoriamente anônima, ou seja, nem a doadora nem a receptora sabem a identidade de uma ou de outra, diferentemente dos Estados Unidos, onde a receptora pode escolher uma doadora conhecida. No nosso país, também não é permitida nenhuma transação comercial nesse tipo de tratamento. A doação deve ser voluntária e sem fins lucrativos. A partir da última resolução do CFM (nº 2.013/13), é permitida a chamada doação compartilhada, isto é, uma mulher em tratamento para engravidar pode doar parte dos seus óvulos para outra mulher, em troca do custeio de parte do tratamento.

Cambiaghi explica: “Por essa resolução, a idade limite para ser doadora é 35 anos. No IPGO, a candidata a doadora além de um exame clínico e laboratorial rigoroso, deve preencher um questionário detalhado sobre sua vida pessoal e médica, incluindo informações sobre antecedentes e características familiares. Detalhes físicos como peso, estatura, tipo e cor dos cabelos, cor dos olhos e da pele são incluídos nesse questionário, acompanhados de uma foto de quando era criança para que a receptora tenha uma ideia da fisionomia de quem lhe doará os óvulos. Assim, ela se sentirá mais segura, mas sem o risco de um reconhecimento futuro”.

Também [e solicitado que escrevam um pequeno texto que reflita os seus sentimentos e traços da sua personalidade, que darão maior ênfase às suas características íntimas. Hábitos como tabagismo, alcoolismo e uso de drogas devem ser questionados. As doadoras não são buscadas ao acaso; na maioria das vezes, elas estão fazendo também um tratamento para engravidar (doação compartilhada) em decorrência de problemas de fertilidade do marido (poucos espermatozoides ou ausência deles), fatores tubários ou esterilidade sem causa aparente, sendo, independentemente da razão, sempre submetidas a exames para a pesquisa da fertilidade, principalmente da reserva ovariana. Todas as sorologias, como sífilis, HIV, hepatite B e C e HTLV, pesquisa de secreção vaginal e papanicolau, devem ter sido realizadas há menos de seis meses, além de tipagem sanguínea, cariótipo, para descartar translocações balanceadas, e avaliação rigorosa da reserva ovariana (quadro abaixo). Se for doação compartilhada, também é necessária a avaliação do útero da paciente e sorologias para toxoplasmose, rubéola e CMV.

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Além disso, para ser doadora, a mulher deve ter as seguintes características:

• Idade entre 18 e 35 anos;
• Bom nível intelectual;
• Histórico negativo de doenças genéticas transmissíveis;
• Teste negativo para doenças infecciosas sexualmente transmissíveis;
• Tipagem sanguínea compatível com a da receptora (exceto se a receptora não se importar);
• Boa reserva ovariana.

Como a receptora escolhe a doadora?

O IPGO costuma ter várias doadoras aguardando ser escolhidas. A receptora terá acesso ao questionário com todas as características físicas da doadora e uma foto dela quando criança. A tipagem sanguínea deve ser compatível no caso dos pais não quererem contar ao filho a maneira que ele foi gerado.

“Apesar de muitas das características das doadoras não serem transmitidas aos filhos, as receptoras sentem-se mais confortáveis em escolher alguém parecida com elas em vários aspectos, tanto físico quando de personalidade”, conta o médico.

As doadoras devem ter entre 18 e 35 anos de idade. Quanto mais velha a doadora menor a chance de gravidez da receptora devido à diminuição natural da chance de engravidar em função do aumento da idade materna.

O tempo de espera para encontrar uma doadora compatível é muito variável visto que algumas etnias são mais raras dependendo da região do país como, por exemplo, a negra e oriental. Dependendo da tipagem sanguínea também o tempo para encontrar doadora compatível pode ser maior.

Regras gerais para a doação de óvulos

Cambiaghi enfatiza que a doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial. “Não se vendem óvulos (nem espermatozoides). As doadoras não podem conhecer a identidade das receptoras, e vice-versa. Obrigatoriamente serão mantidos o sigilo e o anonimato. A legislação não permite doação entre familiares. As clínicas especializadas mantêm de forma permanente um registro dos doadores, dados clínicos de caráter geral com as características fenotípicas (semelhança física) e exames laboratoriais que comprovem sua saúde física. A escolha de doadores baseia-se na semelhança física, imunológica e na máxima compatibilidade entre doador e receptor. Doadoras e receptoras devem assinar termo de consentimento livre e esclarecido que explica detalhadamente todas as implicações da ovodoação”.

As pacientes doadoras

Pacientes do programa de fertilização in vitro com altas respostas ao estímulo ovariano que, às vezes, desejam de forma voluntária e anônima doar parte dos óvulos obtidos ou embriões excedentes. Doação compartilhada é a situação mais comum. Nesse caso, a receptora recebe os óvulos doados de uma paciente submetida à fertilização in vitro (doadora), que fornece alguns de seus óvulos em troca do custeio de parte do seu tratamento. Dessa forma, estaremos ajudando duas mulheres e dando a elas o direito de ser mãe.

Óvulos e embriões congelados provenientes de mulheres submetidas a tratamentos de fertilização in vitro que engravidaram e tiveram seu(s) filho(s): de alguma forma, o sucesso do tratamento já realizado indica uma boa qualidade desses óvulos. Essas pacientes, quando não desejam ter mais filhos, muitas vezes doam os óvulos ou embriões excedentes. Vale ressaltar que a doação de óvulos é muito mais fácil de ser aceita pela paciente em relação à doação de embriões. Como a chance de gestação com óvulos congelados está cada vez mais próxima à de embriões congelados, vale a pena o incentivo para o congelamento de óvulos para mulheres jovens que os produzem em grande quantidade.

“Doação por generosidade pura é muito raro. Algumas mulheres de maneira altruística ou já beneficiadas por tratamentos anteriores de fertilização in vitro, não desejando mais ter filhos e movidas por um sentimento de gratidão, se oferecem para doar seus óvulos sem qualquer benefício”, reconhece o especialista.

Doadoras e Receptoras

Uma vez escolhida a doadora pela receptora e tendo ambas assinado os termos de consentimento, podemos iniciar o tratamento. Existem vários protocolos que podemos utilizar para sincronizar as duas, como os análogos do GnRh, o uso de pílulas anticoncepcionais ou o uso concomitante de análogos e antagonistas de GnRh. O importante é fazer com que as duas possam começar juntas o tratamento. A doadora iniciará com injeções para estimular a ovulação enquanto a receptora iniciará com medicações via oral ou adesivos para preparar o útero para receber o embrião. Pode-se também congelar os embriões formados e transferi-los num ciclo posterior.

Tratamento da doadora

O ciclo de doação de óvulos é realizado pela técnica de fertilização in vitro, na qual os gametas femininos (óvulos) da doadora são doados a receptora para que sejam fertilizados. A doadora é submetida a um ciclo usual de estimulação ovariana para FIV. Como é esperado um número grande de óvulos coletados, as doadoras têm risco aumentado para Síndrome da Hiperestimulação Ovariana (SHO), assim dá-se preferência a utilizar protocolo de indução com antagonista do GnRH. Se realmente crescerem muitos folículos (15 ou mais), pode-se optar por substituir o uso de hCG para maturação final dos óvulos por agonista do GnRH, que praticamente anula a chance de SHO.

Após a coleta, quando o processo for realizado pela doação compartilhada, metade dos óvulos serão fertilizados com os espermatozoides do marido da doadora e a outra metade com os espermatozoides do marido da receptora. Se for doação exclusiva, a fertilização é realizada somente com espermatozoides do marido da receptora. Vinte e quatro horas após a fertilização, sabemos quantos embriões se formaram. Estes permanecem no laboratório por dois a cinco dias e, após serem selecionados, são transferidos ao útero através de um cateter por via vaginal. Não há necessidade de sedação.

Na doação compartilhada, os embriões formados com sêmen do marido da doadora serão transferidos ao útero da doadora, no número máximo de dois. Quando utilizado agonista do GnRH no lugar do hCG, os embriões deverão ser congelados, pois atrapalha a receptividade endometrial. Mesmo com uso de hCG, muitos estudos mostram que níveis elevados de estradiol e progesterona no dia do hCG prejudicam a implantação, então está sendo uma conduta cada vez mais frequente a vitrificação dos embriões para transferência num ciclo posterior natural ou de preparo endometrial.

Tratamento da receptora

A receptora recebe dois únicos hormônios (estrogênio e progesterona) para o preparo do endométrio a fim de receber os embriões, pois não existe indução de ovulação. Se a paciente está no menacme (período menstrual), pode ser feito um bloqueio prévio com agonista do GnRH de depósito (3,75 mg), meia ampola subcutâneo, no 21°. Assim que menstruar, é realizado um ultrassom (e dosagem de estradiol e progesterona, se necessário) para confirmar que está bloqueada para iniciar o preparo endometrial. Se estiver na menopausa, isso não é necessário.

“No IPGO, o preparo endometrial consiste inicialmente de valerato de estradiol 4 mg via oral por dia durante cinco dias, quando então aumenta-se para 6 mg/dia e se mantém por pelo menos dez dias. Pode ser dado estradiol por outras vias também, como adesivos. Quando a doadora for colher os óvulos, a receptora iniciará o uso da progesterona à noite, desde que seu endométrio esteja adequado (pelo menos maior que 7 mm, sendo ideal 10 mm ou mais)”, esclarece o médico, acrescentando: “Se não estiver adequado, vale a pena congelar os embriões e aguardar que esteja favorável. Existem várias maneiras de darmos a progesterona (cápsulas gelatinosas vaginais, comprimidos orais, gel vaginal ou injeção intramuscular)”.

A transferência é realizada normalmente no terceiro ou quinto dia de desenvolvimento embrionário. O(s) embrião(ões) oriundo(s) dos óvulos fertilizados pelo sêmen do seu marido será(ão) então transferido(s) para seu útero. Pela nova resolução do CFM (CFM nº 2013/13), o número máximo de embriões colocado é dois.

No caso de beta-hCG positivo, a reposição hormonal (estradiol e progesterona) deve ser mantida por até 12 semanas.
Cada clínica deve manter um registro de todas as doadoras e receptoras, bem como dos resultados de cada tratamento, de preferência até o nascimento dos bebês. Além de as identidades das envolvidas serem confidenciais, a confiabilidade dos arquivos médicos deve ser respeitada, como em qualquer outro procedimento. A liberação de informações só poderá ser feita mediante autorização expressa do paciente.

Aspectos éticos e legais

As doadoras devem ser informadas sobre os riscos da hiperestimulação ovariana, bem como sobre outras possíveis complicações da fertilização in vitro, como gestação múltipla, sangramento, infecção e anestesia. No Brasil, não há necessidade de se contratar um advogado para acompanhar o tratamento, a não ser em alguns casos específicos, por exemplo, útero de substituição, conhecido popularmente como “barriga de aluguel”. As receptoras devem saber que, apesar de as doadoras serem mulheres com idade de chances mínimas para malformações cromossômicas, essa possibilidade não pode ser excluída.

O casal que parte para a ovodoação deve se sentir à vontade para perguntar:

1. Quantos ciclos de ovodoação a clínica faz por mês?
2. Qual a taxa de gravidez nesse tipo de tratamento?
3. Como a clínica seleciona e encontra as doadoras? Quantas doadoras estão disponíveis no momento?
4. Qual o tempo médio de espera para encontrar uma doadora?
5. Como é feito o pagamento do ciclo?
6. O que acontece caso a doadora não produza óvulos suficientes? Quem arca com o custo dos medicamentos utilizados?
7. Existe a possibilidade de uma doadora doar para mais de uma receptora? Nesse caso, o custo do tratamento pode ser reduzido?
8. Existe alguma restrição de idade para a receptora?9 Existe restrição em relação a estado civil da receptora?

“A doação de óvulos não consiste em um simples ato de entrega descontrolada, mas, sim, em uma atitude pensada e generosa, com o objetivo maior de proteger, preservar, eternizar, restaurar e conservar a família e o amor”, encerra Cambiaghi.

 

Fonte: Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi  diretor do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia) – In the press Comunicação