A relação com amigos imaginários é natural e saudável para o desenvolvimento infantil
Criança é sinônimo de diversão, brincadeira e também imaginação. Por volta de 2 anos de idade, elas iniciam o contato com o mundo da fantasia através dos famosos “era uma vez…” e “faz de conta…”. A partir de 3 anos, uma criatura inexistente pode vir a fazer parte de novas aventuras: o amigo imaginário. Nessa fase, já é possível diferenciar pessoas reais e inventadas, como personagens de contos de fadas ou histórias.
De acordo com a coordenadora de Psicologia do Hospital e Maternidade São Luiz, Genilda Calvoso, os filhos reproduzem com essa figura as situações vivenciadas por eles mesmos: o que sente, vê ou escuta, tendo os pais, familiares, desenhos animados, entre outros, como modelo de certos comportamentos.
Jean Piaget, teórico da educação e psicólogo suíço, em seus estudos sobre a inteligência, interpretou o tema amigos imaginários na infância como forma especial de jogo simbólico, ou seja, atividade que permite construir a realidade, simular e desempenhar papéis.
Deste modo, o companheiro fantasioso estimula a criança a respeitar regras e a consola quando está triste. “O amigo imaginário é uma manifestação de criatividade e de prazer comunicativo da criança. Para Piaget, esse fenômeno não é atribuído à solidão”, explica a psicóloga.
Genilda conta que essa fantasia é comum, principalmente, quando mudanças radicais acontecem na vida do filho, exemplo, quando um irmãozinho nasce. Outra situação pode ser a separação dos pais. “De tempos em tempos, elas compensam a realidade com a ajuda providencial do parceiro imaginário e, assim, combatem sentimentos de abandono, solidão, perda ou rejeição. A presença dessa fantasia ajuda na superação de problemas, que desaparecem rapidamente”, acrescenta.
Quando a imaginação é usada, ela é incentivada a avaliar a realidade. Além disso, o raciocínio, a memória e o vocabulário também são beneficiados. Sendo assim, mamãe, papai e vovó não precisam repudiar a presença do amigo imaginário. “Quando a criança fala com o papai ou a mamãe sobre o ‘amigo imaginário’, é preciso entrar na brincadeira, pois negar a existência pode magoá-la”, alerta.
É possível, assim, desfrutar de um relacionamento de amor e apoio, e isso independe das circunstâncias externas. Como consequência, essas figuras idealizadas quase sempre desaparecem assim que a criança encontra amigos reais ou se adapta às novas situações.
Brincando
É fato que brincar é essencial para desenvolvimento saudável na infância, adolescência e vida adulta. Piaget relatou também que deixar as crianças brincar livremente faz com que elas assimilam e se adaptem à realidade.
Outro especialista, Vygotsky, referiu que o brinquedo exerce forte influência na formação da personalidade infantil, pois ele está associado às necessidades durante a infância, ou seja, a tendência dela é satisfazer seus desejos imediatamente, mas alguns desejos são irrealizáveis, como ocupar o papel de sua mãe. “Diversos brinquedos possuem características dos seres humanos. Isso permite que a criança reproduza situações nas quais ela não pode viver, de fato, no mundo real”, diz a especialista.
Fonte: Sempre Materna